Não me venham com fake news!

Sábado amanheceu chuvoso, depois choveu mais e depois abriu um céu azul, bem azul, pelo menos onde eu estava era bem azul!

Acordei cedo porque tinha um compromisso sério – o encerramento da Semana Literária no colégio. Acompanhei a semana toda os ensaios dos meus jovens estudantes que, após duas semanas de provas, desabrocharam para os palcos, a poesia, a música, o canto, o conto e mais um ponto pra eles!

Faz muito tempo que estou no “chão da escola” mas esse tempo não me endureceu. A surpresa, o suspiro e a emoção são renovadas e novas surgem e, na maioria das vezes, de onde não se imagina.

Na rua da escola percebi o movimento e a alegria, todos sorriam na porta da escola.

Na entrada, poemas, desenhos, registros, cores, histórias. Um caminho sendo percorrido, um lugar em movimento, um despertar de juventude – independente dos meus 59 anos.

Subi as escadas e no último degrau, quando minha cabeça apareceu pra quem já estava lá, escuto meu nome, escuto: “soraaa” e vejo aqueles sorrisos e os movimentos dos corpos, das mãos, dos cabelos, das bocas… É tanta vida alegre que tem ali.

Como podem estar tão felizes num sábado de manhã se estão na escola? Se tiveram que levantar cedo?

E a escola não é esse lugar? Não é o lugar onde o aprender deve causar alegrias inimagináveis? 

Ouço por aí que os jovens “de hoje em dia” não querem saber de nada, são individualistas, vivem nos seus smartphones e notebooks, imersos num mundo virtual. Ouço também que são malcriados, desrespeitosos, que não estão nem aí pra nada. Que não lêem, não escrevem, não interpretam textos, enfim, não querem saber de nada. Não se comprometem com nada! Fake news!

Fui recebida entre abraços e sorrisos, duas lindas jovens – que são minhas alunas do nono ano – vieram com uma cesta, tipo essas de piquenique, com quadradinhos separados.

Levantaram a toalha e me ofereceram iguarias raras: poemas. Mais curtos, mais longos, no papel colorido, branco, autores nacionais: “temos, Bandeira, Quintana, Vinicius, Ferreira Gullar, Manoel de Barros, Clarice, Conceição, Cecília. Pode escolher, pró”

Um tanto atônita fiz a pergunta mais inequívoca que jamais faria se estivesse em sã consciência: mas o que eu faço com elas?

Espantadas: “você lê, depois você lê de novo. Aí você guarda. Depois de uma hora, lê de novo… Você vai se sentir bem melhor. Algo vai acontecer dentro de você que você vai ficar em estado de graça”

Sim. Eu aceito, claro! E saí de lá com Bandeira, Quintana, Gullar, Clarice em pedaços caprichosos de papel, escritos a mão com letras caprichadas para a ocasião, florzinhas espalhadas e poemas que li, reli, li de novo como me indicaram.

O efeito colateral foi mais ou menos o que elas disseram que aconteceria, mais um que elas não falaram. Me senti com 16 anos.

Depois fui à sala de fazer poemas, depois a outra de escolher uma palavra pra criar um poema…

E caminhei por aqueles territórios de lindezas poéticas, de prosas, de música… De Garota de Ipanema, de Vinícius a Nessum Dormo, de Puccini.

Não me venham com caras amarradas e com certezas fabricadas. Esses jovens sabem de tudo, amam com intensidade, criam, cantam e nos oferecem anos de vida e de juventude!

Quarta Semana Literária do Colégio Santa Helena.

Texto escrito pela Professora Silvia Cristina Palaia

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